quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Alarme


O alarme disparou.

Vermelhos, os olhos despertam, já desbotados. Na madrugada irrigados e desalinhados, até que se esfumaçassem no camuflado das imagens-esqueleto. Ele-chuva-ontem, eu-cru-instante, vozes,
ela-outra-nua, ruídos-navalha, gestos-miragem, nós-vazio. Silêncio. Desespero.

Gritos de seda onde não se vê garganta. Som monossilábico em panos de diamante.

Dor, dorme.

sábado, 23 de agosto de 2008

Torpedo...


Apago a luz para te ver melhor. De olhos fechados vejo o mundo em poesia. Do vale grito felicidade. Então o eco me traz seu nome.

(Cesar Genaro)

Love is love, and blembers













- O amor é aqui?
- É
- E eu posso sair quando quiser?
- Pode. Mas o que tem lá fora?

(da peça Love and Blembers, de Georgette Fadel)

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Pode ouvir?









Alguém poliu as cordas do violão
Som desengordurado, desabotoado, desabituado
Nua, ela canta
Vermelha voz aveludada

domingo, 17 de agosto de 2008

20 anos recolhidos

chegou a hora de amar desesperadamente
apaixonadamente
descontroladamente
chegou a hora de mudar o estilo
de mudar o vestido
chegou atrasada como um trem atrasado
mas que chega

(Chacal)

Arrepio


Pele em flor. Mãos levianas, braços-afagos, pernas musicais. Esses lábios, pura melodia. O corpo a derreter-se todo. Aos poucos.

Inquieto silêncio a saborear o vendaval.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

O QUE ESTÁ FALTANDO


desabotoar
desabituar
desalinhar
desalojar
desapertar
desarrumar
desenhar
desdenhar
desembestar
desembaralhar
desembolar
desenrolar
desengordurar
desordenar
desesperar
des
per
tar


domingo, 10 de agosto de 2008

Buraco de fechadura


Vejo os termômetros plastificados. Quero correr, mas a porta está trancada. A temperatura se liquefaz ao frigir dos olhos, ácidos e permeáveis. Ouço o sussurar do relógio na parede. Solas de cristal em tablado. Sombras em vozes na parede. Só posso engolir e mastigar o tempo. Daqui, as profundezas do impassível. Sons implacáveis em molduras de gelatina. É na profundidade elástica que eu consigo te ver mais de perto.

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Carta ao Senhor Ja-jabuti


(Minha cara de raposa rindo da sua cara de tacho)

O que vai fazer falta, agora que você está aí, do outro lado do mundo...

- a sua cara de tacho quando eu estiver com cara de raposa
- a sua memória gudória prá me lembrar o nome da fruta
- a formiguinha formigante prá me fazer dormir
- um andar tartarugamente pelas ruas a posar e tirar fotos
- nossas risadas musicais em um tu-RU-tu-RU de Beethoven
- contar histórias gudórias durante um concerto (gostei daquilo!)

Suas pegadas tartarugantes ficaram aqui! Estão por toda parte...

Espero que você descubra rápido rompante qual é o nome da nova fruta que pipocou aqui na terra e volte logo para nos contar! A bicharada toda está esperando, ansiosa pelo jantar.

Uma dica: às vezes é melhor parar a estória e sair de dentro dela para aprender o nome da fruta... ou, então, inventar uma canção para o caminho de volta!

E mais: muito cuidado com a misteriave-osa! Ela pode te enganar com aquela musiquinha, e querer que você fique por aí!

Saudações
da Raposa (com cara de raposa)

Palavras de cera


Parece que deslizam no fluxo da paisagem. Fluida passagem, instante escorregadio. Alguém quer se segurar, mas os galhos são de cera. Enceram o olhar que se encerra na primeira palavra. Não há ruídos, apenas gestos. Dedos que conversam. Mãos que esparramam grãos de areia, como se quisessem alisar o dia, alinhar a lentidão. Não se vêem os pés por debaixo da terra molhada, mas o chão é de cimento.


Em cenário de lama, quem usa botas é re
i.

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Sinais de fumaça


Uma forma. Fôrma em fórmula. Sem nome, sem lei, sem limites. Apenas algumas marcas rompantes, ventantes. Sinais que rasgam ao fundo, o de dentro. Tudo queimado, incendiado. Uma voz. Um assobio. Um murmúrio.

Feche os olhos... Pode ver, agora?