terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Entrefins


Foto by Mário Pedroni

Foi ela quem começou:
- Vou partir, o tempo acabou.

A partida. Eis o começo do fim de tudo, o meio do caminho abreviado. Se o tempo não existia, tudo coexistia, no zero espaço-tempo?

Li a história toda no quando em que: os olhares se tocaram. Começo, meio e fim, exatos, sem que ninguém, nada. Cheiro de distância na sala, verdade dissolvida, pura e transbordante.

Ela tinha os pés tão plenos de chão, que era como se um fio a puxasse ao centro da terra. Mesmo parada, eram passos esticados até enfim, aqueles: sóbrios, concretos. Sem sombra de ser. Ela, insubstituível e inderrubável em sua ebulição. Ombros largos, quadris estabelecidos, joelhos a postos.

Nossa relação, por entre-nós. Bastava entre-sermos, entrermos. Porém, nos desertamos, desertificamos em qual memória. O que um dia inteiro, hoje, o necessário: máscaras, semi-abraços, pseudo-sorrisos, neblina. O tempo realmente acabara, para tchau.

Eu, rasa, olhos nos olhos, latejante. Abreviação: levitação. Eu não estava mais lá, flutuava em minha própria. Meus passos, perspectivos, moídos. Fiquei, interrompida.

Haver, a ver.

2 comentários:

Bruno Vaks disse...

muitas vezes te leio e tenho a impressão que eu poderia estar lendo os mesmos textos.

Como anda o teatro?

Priscila disse...

Obrigada por passear por aqui, Bruno.
Sempre bom encontrar vozes de outros lados.
O teatro está cada vez mais mágico e instigante... a gente vai se apaixonando aos pouquinhos!

Abraços