Toda viagem só começa quando pisamos o chão do nosso destino.
Sinto que realmente cheguei a La Paz quando desço à rua, piso o chão e encaro os rostos cansados e tristonhos das cholas que passam por mim com seus sacos coloridos às costas. Em alguns destes, um amontoado de objetos as faz inclinar-se à frente com o peso. Em outros, percebe-se a cabeçinha de uma criança olhando ao redor.
De paz, La Paz não tem nada. Debaixo dos toldos azuis que cobrem toda a rua, cabeças apressadas movem-se desordenadamente pelos corredores estreitos por entre as tiendas. Por toda a rua, por todo lado, o comércio borbulha desde logo cedo sobre o asfalto.
Do chão, um colorido mágico prende o olhar até mesmo do viajante mais desatento. Muita cor nas saias das mulheres que levam a cidade às costas, nas bochechas rosadas das crianças de rostos rechonchudos, nos produtos à venda nas tendas (roupas, brinquedos, cacarecos, tecidos, comidas, artesanias), na fachada dos edifícios, nos copos das vendedoras de sucos coloridos nas calçadas, nas verduras e frutas expostas sobre mantas de cores brilhantes, nos letreiros dos outdoors, nos artesanatos...
La Paz afunda em um imenso lago de terracota, que se forma em uma cratera cercada de montanhas. Conforme se sobe as encostas, a cor muda, e têm-se uma impressão mais clara do imenso lodo. Do alto, a cidade multicolorida torna-se um emaranhado de terracota, quase incolor, contrastanto com a grandeza e brancura das montanhas nevadas e o azul brilhante do céu.
A paz está quando se consegue formar uma imagem completa deste turbilhão entre as montanhas e descobrir-lhe a beleza oculta. Do alto, do ar, quando o viajante se prepara para mergulhar ao fundo do poço para descobrir o arco-íris.
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