quarta-feira, 2 de julho de 2014

Mudança

 

Uma amiga me perguntou se valeu a pena mudar.

Trocamos a correria, o stress, o trânsito, os ônibus cheios, pessoas querendo tirar vantagem, o desrespeito ao seu espaço privado, a violência, o medo de sair de casa à noite e parar o carro no semáforo, ver o amanhecer cinza na metrópole, olhar pra fora e nāo ver o horizonte, as travas, portōes, cadeados, cameras em casa, trabalhar com arte por merreca, ser artista só na hora vaga, por falta de trabalho e gente querendo te explorar, a corrupção no governo e no coração de alguns... Trocamos tudo isso pelo canto dos pássaros na janela de manhã, um lago atrás de casa, um rio que dá no mar na rua do lado, ter 1 só emprego, sair do trabalho às 3, nadar, surfar, remar depois do trabalho, ver o nascer e o por do sol da varanda todos os dias, saber qual constelação vai estar sob sua mesa de piquenique no parque esta noite, tomar vinho com por do sol na beira do rio até tarde, trabalhar numa escola no meio do mato, ganhar salário fixo prá dar aula de teatro, subir a montanha do quintal do vizinho prá ver o mar, fazer trilha no parque nacional na terça, churrasco na beira do rio na quarta, sair de casa de bike para acampar, nāo ter todos os horários marcados... E saber q o imposto q vc paga volta em saúde, churrasqueiras sempre limpas nos parques, ônibus de graça nas férias, trilhas de bike demarcadas e acessíveis em toda costa e interior, escolas públicas e particulares com professor ganhando igual e dignamente...

E cada centavo q investimos se pagou em cantos de passarinhos e em milhōes de cores ao por do sol.

Vendemos tudo que tínnhamos e viemos com duas malas cada um. Ao chegar, percebemos que o tudo de lá não cabia mais no arco-íris de cá. Então alugamos uma casinnha mobiliada e compramos um carro chinês, uma barraca, uma bike, uma prancha de surf, uma de stand up paddle e um remo... Falta só o violão... O resto, a gente inventa, desenha, canta e improvisa.

A saudade... Essa a gente manda por email, grita no Whattsapp, lê no Facebook, chora no telefone, vê pelo Skype e abraça no aeroporto no Natal.

Ao final, o que realmente vale a pena é acordar com o canto do kookaburra todas as manhãs e não saber onde, ou quando, ou se, ou cadê "aquelazinha" que, infalivelmente, sempre aparece "nas horinhas de descuido". 

O descuido é que vale a pena.

Denise Cruz, obrigada pela inspiração.





2 comentários:

Grupo Parampará disse...

Querida Pri, lágrimas descendo por aqui. Você é daquelas pessoas que a gente gosta e só o gostar aquece o coração da gente.

Anônimo disse...

Pri, que bom te ver feliz. Belas palavras. Aquele abraço, Bel.