domingo, 15 de julho de 2012

Ensaio sobre uma cegueira



Escrevo à luz de velas, em noite em que não há lua cheia. Faz muito frio lá fora.

Perdi meus óculos. Quebrei-os, estilhaçados no mármore cinza do quarto. Lente de vidro, despedaços ao mínimo toque.


Agora escrevo bem de perto. Por enxergar muito pouco, tenho que fechar um dos olhos e encostar meu nariz no papel para que acompanhe o movimento da caneta tinteiro.


Vejo cada palavra que se desenha na folha limpa. Dança de traços nítidos, embaraçados e imprecisos ao longe. Percebo bem o que escrevo à margem esquerda, mas vejo nuvens à direita.


Enxergo apenas a pena que percorre o papel; o corpo da caneta se perde nas brumas do não enxergável.


Mas queria apenas dizer, dançando, que hoje a lua sorriu para mim, e com sua luz empalhei o mundo.

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