sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

CO-EXISTÊNCIA


Quando eu nasci, não havia o tempo. Eu era um bebê. Aos bebês, o tempo importa tanto quanto tudo. Ou seja, nada.

Havia, sim, o nada. O vazio, o silêncio, o som: puro e translúcido. Luz e flor, ora vaporosa, ora interrompida. Pura, no deserto de si. Serena, trazia-me, em invisível movimento – imperceptível momento.

Como captar o momento exato, o em-si daquele instante em que tudo simplesmente coexistia, sem antes, depois, agora, já? As coisas flutuavam e pairavam, sem certezas nem espaço.

Naquele exato, não havia relações. Não havia eu nem você. Havia a lua a encher o todo. Eu acontecia, acontecendo. Mãe: inteira, cheirando a.

O fato é que eu: miragem em perspectiva, sem máscaras no meu transcender. Haver: impossível desertar-se. Em-si-sendo, para quando, para onde.

Com o tempo, fui sendo. Até que me tornei o próprio tempo. Sem ele eu não existo mais. Tenho posição, velocidade, começo e fim. Até crises eu já tive. Eu aconteço e estou.

Hoje, a única coisa que eu sei que sou. Tempo.

Nenhum comentário: