segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Res-piração instantânea


Foi inesperado.

De repente, olho pela janela e vejo o passado, parado ali, no terreno à minha frente.

Eu, a janela e o passado. Bem ali, no lugar onde nascemos. Já me havia esquecido do que, de quem. Eu-ele-fui. Poucas palavras, respiração em flor. Por um instante: imagens, miragens, silhuetas, re-cortes, nuvens, espelho. Fui-foi. Não houve olhares, apenas fatia, eco, tijolos e cimento. Descosturar, condensar, estremecer, refratar.

Fecho os olhos para desinflar. Quando abro, vejo surgir no vão da porta o presente e o futuro, de mãos dadas. Eu, a janela, a porta, o passado, o presente e o futuro. Ali, no lugar onde nos validamos. Naquele segundo: respiros, respingos, tomadas, lunetas de papelão, giro de maçaneta. Óperas díspares, o tempo encavalado. Sinto inflar a lâmina oca a empalhar as cinzas.

O presente entra, cumprimenta o passado, cochicha algo ao futuro e caminha em minha direção. Estilhaço as horas e abraço o instante. Não há algodão no rouco entoar das porcelanas. Fecho os olhos. Inspiro. Expiro. Inspiro. Expiro. Não ouço mais a canção de cimento. Inspiro. Expiro.

2 comentários:

Anônimo disse...

lindo, Priscila.
A vida---um sopro, como diria Clarice.

Bj,

Simone

cesar disse...

A brisa arrepia a pele. O vento leva traz o sisco. Do olho escorre a lágrima. Num piscar d´olhos em abraço o colírio.