sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

QUASAR










Quem viu foi o Sérgio, e olha só a descrição que ele fez da coisa toda:

"Nada é mais profundo no homem do que a sua pele."
Paul Valéry

No programa que peguei antes do início, havia um texto muito chavão do coreógrafo explicando a "mensagem" que queria passar com aquela apresentação, tudo muito superficial. Pensei: isso vai ser uma bomba. Mas quando os dançarinos começaram a primeira música, uma dança que envolvia uma espécie de luta entre dois homens, não um confronto heróico, grandioso, épico, mas cotidiano, preso ao chão, urbano, seco - aí fiquei encantado. É outra linguagem, algo fora da palavra, de modo que pedir ao coreógrafo que transmita aquilo por meio de um texto é o mesmo que pedir ao Guimarães Rosa que dance com perfeição o Grande Sertão. Sem contar que o corpo humano quando se expressa daquela forma - direta, não em um filme gravado anteriormente, mas aqui, a cada passo que é presente, sempre incerto, uma quase queda que se torna algo belo, talvez devido justamente a sua fragilidade -, esse corpo ressurge para nós como uma espécie de tela mágica de pintura, a qual vai criando formas e cores a partir de sua superfície ou, se preferirmos, de sua interioridade carnal que, num arriscado golpe de luz, se torna pura visibilidade. Isso me transmitiu uma força de realidade, uma solidez de corpo e espírito, de uma qualidade bastante diferente da que a palavra costuma criar em mim.

(Sérgio Bacchi Machado)

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