terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Fragmentos








Desfiz-te em mil pedaços para poder ver-te por inteiro.

Cada fragmento em que te enxergava
em fração inacabada e limitada,
via um todo em si que continha uma pequena parte do todo de ti.

Busquei sentido em cada minúcia.
Cada detalhe foi friamente debulhado,
cada um em si e por si
até que nada restasse obscuro.

E finalmente percebidas por inteiro,
cada uma das partes,

agora não mais desconhecidas para mim,

fui aos poucos reencaixando,
recolocando ordem no que desordenado ficara.

Porém os fragmentos,
por minha mão novamente colocados juntos,
deram origem a um outro alguém,
um você-outro visto tão de perto,
que já não mais reconheço como o você de ontem.

Desfiz-te em mil pedaços
e minha lucidez de hoje
não mais me permite refazer-te como antes.

Mas não me importo nem um pouco com isso.
Porque recompor-te não faz mais o mínimo sentido.

Restam apenas fragmentos.

2 comentários:

dede disse...

Nooossa pri, doeu na alma
"....nossa alma esta abatida até ao pó:nosso corpo curvado até ao chão.
Levanta-te em nosso auxílio, e resgata-nos por amor das tuas misericórdias......
é bíblico salmo 44

beijinhos

Simone Couto disse...

Amar é estar distraído, como diz a sábia Clarice Lispector. Fragmentar o outro é também fragmentar a si próprio.