segunda-feira, 29 de outubro de 2007

CHEIRO DE MILHO


(Essa sou eu!)







Adoro milho verde!
Em qualquer lugar, a qualquer hora.

Não é coisa só de praia não. É também de cidade, de esquina do metrô, de ponto de ônibus, de porta da escola.

Só de mordiscar aquele grãozinhos macios, todos enfileirados, sinto tremenda satisfação, um prazer imenso.

Milho verde me lembra meu avô paterno. E a única lembrança real e visual que tenho dele, roubando meu milho e comendo fileira sim, fileira não. Fazia estradas na minha espiga, e depois me devolvia. Demorava um tempão nesta tarefa. E eu, depois de esperar pacientemente, comia os caminhozinhos já frios, porém mais gostosos, e feliz da vida porque tinham sido feitos especialmente para mim.

Mas hoje gosto de comê-los sem nenhuma arquitetura, nenhum planejamento. A cada mordida, enquanto os moles caroços se derretem na boca, os olhos fitam a mancha branca que
se vai formando, destruindo a perfeita simetria das linhas.

O cheiro doce, forte, grande, penetra aos poucos por todo o corpo. Um cheiro-memória que vai alargando a
fenda crua no meio das fileiras amarelas. Surgem caminhos tortuosos, buracos desiguais, desfazendo os fragmentos de lembrança que aparecem como linhas tênues e permanecem em imagem apenas um breve instante.

Até que toda cor se acabe em um simples bagaço.

Adoro o gosto e o cheiro do milho porque eles me levam para bem longe daqui.

Devagarinho, miudinho, sem me importar mais com coisa nenhuma.

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