terça-feira, 25 de setembro de 2007

"Tu cherches quoi?"






Um dia perdi um sorriso.

Desses que a gente guarda com todo cuidado para não rasgar nem amassar.

Não o vi cair. Eu andava no meio da multidão e, quando me dei conta, ele já não estava mais lá no lugar onde deveria estar. Deve ter descolado e escorregado pela camiseta, - foi o que pensei - olhando por baixo da roupa logo o encontrarei. Mas não o encontrei. Ou talvez eu o tenha deixado em cima da mesa do restaurante, foi outra conjectura. Mas quando lá voltei não havia nada, nem ninguém havia visto coisa parecida.

Andei pelas ruas enlouquecida. Perguntei nas lojas por onde havia passado e às pessoas que andavam pelas calçadas. Dei-lhes a descrição minuciosa de tamanho, espessura, cor, volume, disse-lhes que não me lembrava de como havia acontecido. Espalhei cartazes de PROCURA-SE.

"Isso você não recupera mais", era tudo o que eu obtinha em troca.


Passaram-se meses, e o sorriso fazia falta. Procurava-o desesperadamente dia e noite por todos os lugares da cidade. Mas sempre sem resultado. Custei a acreditar que nunca mais o teria de volta.

Até que um dia desisti da busca.

Já se havia passado tanto tempo que eu nem dava mais por sua falta, pois o vazio havia-se tornado rotina. E passou a fazer de tal forma parte de mim, que eu já não podia mais viver sem sua (des)presença.

Até que um dia, inesperadamente, o sorriso apareceu. Foi lá, na casa velha. Bateu à porta, pediu licença. Havia uma festa, a casa estava cheia, os amigos espalhados pelo chão de madeira da sala. Mas eu deixei-o entrar. Desde então, nunca mais foi embora.

E quanto ao vazio, deste, nunca mais ouvi falar.

2 comentários:

Inglês no Crusp disse...

que texto lindo, Pri...

Simone Couto disse...

pois não foi o seu sorriso que me encantou quando nos conhecemos?