quinta-feira, 23 de dezembro de 2010
Fim de ano
No fim de tudo, há uma luzinha. É para lá que eu vou. Caminhando e cantando, em busca de borboletas.
Que os vagalumes iluminem todos os caminhos.
E os passarinhos amanheçam alegrias.
Para mais um começo, um desfazer-se.
Quem? Eu?
muro, sem janelas
o esquisito dentro e fora
o avesso envenenado
ilha glacial, perfurada
silêncio de andorinhas
o amanhecer sem palavras
é tempo de borboletas
Posso perguntar?
ao olhar a questão em si
a ilha clareia distancias
sensacoes de esconderijo
o ar respira silencios
de dentro, sentidos
de fora, desconfiancas
o momento é de desenterros
segunda-feira, 20 de dezembro de 2010
segunda-feira, 13 de dezembro de 2010
Abe
minha inspiração de cabeceira foi-se
sem se despedir
deixou pedaços, espaços, imagens
abraços
palavras: não sei mais onde
alegra-me saber que está
onde o silêncio:
é daí que saem as borboletas
quando estiver palavra
quero ler-te
ouvir-te de vez em quando
ver-te tela e tinta
por enquanto guardo-te
nas cores
que velam meu sono
todas as noites
siga em paz, meu pequeno amigo!
sabes onde estarei, estaremos
para as saudades
segunda-feira, 6 de dezembro de 2010
Quase não
Fim do ano
quero ir
subir, descer
ver
cada ano
uma travessia
história, deserto, rio
desta vez: montanhas
torres
babel onde eu
até que eu
sábado, 27 de novembro de 2010
Sábado
sábado, 13 de novembro de 2010
Sobre suores e andorinhas
A Cidade
Arquipélagos-edifícios
áspero estalar de nadadeiras
por rios-ruas
onde carros
escafandros
exprimem-se, imprimem-se
pontes coalhadas de gente
como esponjas inundadas de noite
flores no asfalto
sorrindo-se
munindo-se do vento
sem tempo
sob esquifes: peneiras
Sobre montanhas e passos
De novo o olhar na parede. Nunca consegue o lado de lá - ou simplesmente não chega. Bate e volta, bate e volta - por todos os lados.
Acho que preciso de férias. Ou de árvores. Ou montanhas. Sem muros. Sem paredes. Ou relógios. Onde não o começo nem o fim. Onde apenas: olhar.
domingo, 7 de novembro de 2010
Musicando-se
até me transformar em poema
nada de carnes e pesos
apenas cheiros, cores, música
sentidos, palavras
sílabas lixadas, dilatadas
encolhidas, esticadas
até que enfim
sem fim
poesia
segunda-feira, 1 de novembro de 2010
Retecendo
sexta-feira, 15 de outubro de 2010
Hoje
"Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina."
(Cora Coralina)
Para nós, professores.
terça-feira, 12 de outubro de 2010
Sobre palavras e passarinhos
sábado, 9 de outubro de 2010
Eu queria
sábado, 2 de outubro de 2010
Sobre tudo
o idioma das árvores.
Saber as canções do vento
nas folhas da tarde.
Eu queria apalpar os perfumes do sol.
(Manoel de Barros)
De manhã
tenho uma ligação forte com as manhãs
quando o corpo duro
quando tudo acorda
tudo é tão geladinho às seis da manhã
e a gente se esquece de parar
para ouvir passarinhos
quarta-feira, 22 de setembro de 2010
No fim
o céu, o sol
a lua, as estrelas
o próprio chão
as palavras
terça-feira, 21 de setembro de 2010
domingo, 19 de setembro de 2010
Domingo
visto-me de palavras
para cheirar a cor da manhã
perfumo-me das imagens
que umedecem a tímida voz do dia
cinzento silênciar de andorinhas
líquido caminhar
passarinhar
pelo amanhecer
O Vendedor de Soluços
Sou um vendedor de soluços.
Tudo o que carrego comigo está à venda. O caminho que eu tomo é imprevisível e imperdoável.
Os produtos que carrego são a causa dos sons precisos - precisados - para chegar onde há o limite.
A repetiçào está à venda.
sábado, 18 de setembro de 2010
Soberania
"Naquele dia, no meio do jantar, eu contei que
tentara pegar na bunda do vento — mas o rabo
do vento escorregava muito e eu não consegui
pegar. Eu teria sete anos. A mãe fez um sorriso
carinhoso para mim e não disse nada. Meus irmãos
deram gaitadas me gozando. O pai ficou preocupado
e disse que eu tivera um vareio da imaginação.
Mas que esses vareios acabariam com os estudos.
E me mandou estudar em livros. Eu vim. E logo li
alguns tomos havidos na biblioteca do Colégio.
E dei de estudar pra frente. Aprendi a teoria
das idéias e da razão pura. Especulei filósofos
e até cheguei aos eruditos. Aos homens de grande
saber. Achei que os eruditos nas suas altas
abstrações se esqueciam das coisas simples da
terra. Foi aí que encontrei Einstein (ele mesmo
— o Alberto Einstein). Que me ensinou esta frase:
A imaginação é mais importante do que o saber.
Fiquei alcandorado! E fiz uma brincadeira. Botei
um pouco de inocência na erudição. Deu certo. Meu
olho começou a ver de novo as pobres coisas do
chão mijadas de orvalho. E vi as borboletas. E
meditei sobre as borboletas. Vi que elas dominam
o mais leve sem precisar de ter motor nenhum no
corpo. (Essa engenharia de Deus!) E vi que elas
podem pousar nas flores e nas pedras sem magoar as
próprias asas. E vi que o homem não tem soberania
nem pra ser um bentevi."
sábado, 21 de agosto de 2010
Sobre sonhos e sóis
Sonhador é quem consegue encontrar o próprio caminho ao luar.
Como punição, vê o alvorecer antes do resto do mundo."
(Oscar Wilde)
Nada ar
piso em ventos
quando o todo do mundo
como mar
eu, ao fundo
mergulhar
vejo o mundo
nadar
por cima
resto
mar
falta ar
Da janela
terça-feira, 20 de julho de 2010
E agora, José?
há o dia em que o vento para
as folhas silenciam
o sol se esconde
as estrelas somem
o céu escurece
e o mundo cai
puf!
assim, de repende
em milhões de pedacinhos
estilhaçado
e nós, embaixo
por cima dos cacos
a olhar sem saber
a juntar sem entender
em volta
apenas silêncio
escuridão
"Faz frio, aqui!"
não há flores
não há sol
nem borboletas
ou vagalumes
eu
vazio
há razões que ultrapassam o todo
que não são feitas
(se é que alguém as faz!)
para crer ou entender
apenas viver
sentir
ouvir o vento
ser
e nada mais
domingo, 11 de julho de 2010
Novo Manual Prático para o Anonimato
O espetáculo é uma livre adaptação da obra do escritor americano Chuck Palahniuk ambientado em uma atmosfera corporativa onde o banal e o grotesco predominam.
Direção: Andressa Cabral
Elenco: Cia Teatro No Sufoco – César Genaro, Esteban Umpierrez, Gabriela Cerqueira, José Alessandro Sampaio, Michelle Cavalcanti e Priscila Cunha
Quando: Quartas, 21:00
Onde: Espaço dos Satyros Dois – Praça Franklin Roosevelt, 134.
Quanto: R$ 20 (Inteira) R$ 10 (Estudantes, Classe Artística e Terceira Idade); R$ 5,00 (Oficineiros dos Satyros e moradores da Praça Roosevelt).
Lotação: 70 lugares.
Duração: 60 minutos.
Classificação: 16 anos.
Temporada: QUARTAS, de Julho a Setembro
sábado, 10 de julho de 2010
Sobre montanhas e ventos
De manhã, por cima das nuvens, a visão de toda a viagem. Eis o porque de tudo, o valer dos pés, o esquecer-se de todo o resto. Aqui, é como se deus. Assim, o então, o entorno.
Passei longos minutos a respirar a paisagem, ouvir o vento, espalhar-me pelo silêncio infinito do mundo. Eu, em pedaços, em espaços.
É no topo de tudo, no fim da caminhada, que olhamos para trás e nos fundimos com a paisagem. Agora, parte de mim.
Alguns minutos em quieto olhar. Eis o fim, o objeto único. Guardo a paisagem em memória, em história.
É aqui por onde o vento. Enquanto o vento. Até o vento.
Do alto de tudo
sexta-feira, 25 de junho de 2010
Intertexto
Se alguém me disser, agora, que daqui a alguns instantes tudo irá se acabar, o fim: levo apenas caderninho, e lápis. Algumas fotografias, talvez. Se bem que hoje, imagens-tela, sem tato. De resto, lembranças, e palavras - em palavras.
terça-feira, 15 de junho de 2010
Reunião de professores
fui anotando
primeira impressão:
palhaços tristes
bolha de sabão
corda solta
roupas penduradas,
sem corpo dentro
vento que se perde
fantasmas
trem de ferro,
descarrilhado
prá mim
mesmo começo
sem fim:
tudo poema
crianças-poema
professores-música
sábado, 12 de junho de 2010
Cidades de onde
São Paulo, por sua vez, não tem cor. É cinza, da cabeça aos pés. Cor, somente no céu que paira e no sol, que queima: pedras-artérias. Há vida-luz nos grafites nela tatuados. Tem cheiro de fumaça durante o dia, até que as damas-da-noite estalem: e caminham, emitindo ares, revestindo olhares. Tem gosto de pó, e grita de dentro de sua caverna. Sua pele é dura e seca como jacarés. tudo entulhado por dentro - até que daqui eu (nunca) saia.
terça-feira, 8 de junho de 2010
Reestréia em nova temporada
Sinopse: A Empresa de Embalagens Descartáveis Whitier & Whitier está prestes a receber o Certificado Internacional de Qualidade quando sofre um terrível golpe: a máquina copiadora é quebrada. O acontecimento muda radicalmente um dia comum de trabalho. A partir de discussões sobre temas como trabalho e relações pessoais, o espetáculo retrata as pressões para se alcançar modelos inatingíveis. Livremente inspirada na obra do escritor Chuck Palahniuk ("Clube da Luta") e na estética de HQs.
Elenco: Cia Teatro no Sufoco – César Genaro, José Alessandro Sampaio, Gabriela Cerqueira, Esteban Umpierrez, Michelle Cavalcanti e Priscila Cunha.
Direção: Andressa Cabral.
Quando: Quintas, 20h30.
Onde: Espaço dos Satyros Dois – Praça Franklin Roosevelt, 134.
Quanto: R$ 20 (Inteira) R$ 10 (Estudantes, Classe Artística e Terceira Idade);
Classificação: 16 anos.
Temporada: Quintas de JUNHO e JULHO
domingo, 23 de maio de 2010
Cidades por onde
Cuzco, por exemplo, é verde e marrom, cor de pedra envelhecida, abandonada sobre a grama. Cheira a poeira e tem gosto de sopa. Suas calçadas choram: mãos ao piano.
La Paz tem cor de calcário, com toques de cinza. Tem cheiro azedo e um gosto cremoso como de rúcula sobre grãos de quinoa. Suas mãos são ásperas, empoeiradas.
Revisita
gosto de ler o meu eu de antes
antes de mim
e fotografá-lo
limpá-lo
fazer visitas de vez em quando
para depois fechá-lo
e guardá-lo na estante
ao lado dos outros
lidos pedaços de mim
Sentidos
quarta-feira, 19 de maio de 2010
Convite
NOVO MANUAL PRÁTICO PARA O ANONIMATO
Sinopse: A Empresa de Embalagens Descartáveis Whitier & Whitier está prestes a receber o Certificado Internacional de Qualidade quando sofre um terrível golpe: a máquina copiadora é quebrada. O acontecimento muda radicalmente um dia comum de trabalho. A partir de discussões sobre temas como trabalho e relações pessoais, o espetáculo retrata as pressões para se alcançar modelos inatingíveis. Livremente inspirada na obra do escritor Chuck Palahniuk ("Clube da Luta") e na estética de HQs.
Elenco: Cia Teatro no Sufoco – César Genaro, Fabricio Castro, José Alessandro Sampaio, Kátia Gomes, Michelle Cavalcanti e Priscila Cunha.
Direção: Andressa Cabral.
Quando: Sábados, 18h30.
Onde: Espaço dos Satyros Dois – Praça Franklin Roosevelt, 134.
Quanto: R$ 20 (Inteira) R$ 10 (Estudantes, Classe Artística e Terceira Idade); Classificação: 16 anos.
Até 29 de maio
quarta-feira, 12 de maio de 2010
sexta-feira, 23 de abril de 2010
segunda-feira, 19 de abril de 2010
Entulhos
estou cansada de espectros de relações sem toque, sem ar!
vou sair, preciso respirar, despeço-me
se precisar de mim, me ligue
eu posso te esquentar
Solução
quarta-feira, 31 de março de 2010
Liquefazendo-se
que as mãos não conseguem segurar
como água
que escorre pelos dedos quando segurada
não é seguro, não é possível
segurar
há espinhos, há desgaste
há muito ar
múltiplo voar
levanta-se tudo
e se esparrama pelo mar
Amanhecer
Sentidos
sentir-se só
ouvir sem dó
falar sem nó
ver o ó
cheirar, tocar
deixar o tom
no ar, doar
reververar
até o silêncio
e só
sexta-feira, 26 de março de 2010
ÚLTIMA CHAMADA!!!
sexta-feira, 5 de março de 2010
Faxina
hoje parei no tempo
abri as gavetas: revisitei-me
fiz limpezas
arrastei
descolei
abotoei
escondi
guardei
rasguei
desamassei
dobrei
recolhi lembranças
viajei em mim
antes de mim
estava tudo lá
exatamente como havia deixado
agora já posso começar a desarrumar tudo de novo
Sono
(enquanto não se dorme)
há espectros
do que não
no meio da noite
há pedaços
de escuridão
em que só olhos
onde ventos-silêncios
visitam, vigiam
(há, ainda, depois?)
Viver em perguntas
eu sou as perguntas
que você em mim
sou o que quando
por que como
talvez nas estrelas
para o sono
onde sou silêncios
em palavras
que nunca respostas
terça-feira, 23 de fevereiro de 2010
sábado, 20 de fevereiro de 2010
Declaração
você: surpreendente e inevitável
eu, aqui: cigarra espessa
no entre-nós até o arrepio
piruetas de mim, ecos de você
enveredamos, envenenamos
você, com o vento dos esquilos
eu, com ânsias de canário
enovelados
em nó - vedados
verdades de nós-mesmos
por onde
até perdermos a noção do vento
e o tempo, pela espessura da noite
Água
As águas não conversam como as folhas. Elas derretem palavras, fundem som e forma - disformas. Ao nos banharmos ouvimos suas vozes e nos fundimos em infinito conversar.
Folhagem
terça-feira, 2 de fevereiro de 2010
Depois de tudo
Não paro de pensar, e tentar entender, o que, porque e para onde a vida. De vez em quando, ainda durmo com as luzes acesas. Para espantar o frio, mesmo que faça calor.
sexta-feira, 29 de janeiro de 2010
Um arrepio
li e reli
cantei alma
revisitei arrepios
e viajei ao lado do sol
até esquecer
o que de mim
em estalos lembranças
para mim, é assim que o ano começa
Força Estranha
Eu vi um menino correndo, eu vi o tempo
brincando ao redor do caminho daquele menino,
eu pus os meus pés no riacho, e acho que nunca os tirei
O sol ainda brilha na estrada que eu nunca passei
Eu vi a mulher preparando outra pessoa
O tempo parou pra eu olhar para aquela barriga
A vida é amiga da arte, é a parte que o sol me ensinou
O sol que atravessa essa estrada que nunca passou
Por isso uma força me leva a cantar,
por isso essa força estranha no ar
Por isso é que eu canto, não posso parar
Por isso essa voz tamanha
o tempo não pára no entanto ele nunca envelhece
Aquele que conhece o jogo, o jogo das coisas que são
É o sol, é o tempo, é a estrada, é o pé e é o chão
Eu vi muitos homens brigando, ouvi seus gritos
Estive no fundo de cada vontade encoberta,
e a coisa mais certa de todas as coisas
Não vale um caminho sob o sol
E o sol sobre a estrada, é o sol sobre a estrada, é o sol
Por isso uma força me leva a cantar,
por isso essa força estranha no ar.
Por isso é que eu canto, não posso parar.
Por isso essa voz tamanha.
(Caetano Veloso)