Foto by Mário Pedroni
Foi ela quem começou:
- Vou partir, o tempo acabou.
A partida. Eis o começo do fim de tudo, o meio do caminho abreviado. Se o tempo não existia, tudo coexistia, no zero espaço-tempo?
Li a história toda no quando em que: os olhares se tocaram. Começo, meio e fim, exatos, sem que ninguém, nada. Cheiro de distância na sala, verdade dissolvida, pura e transbordante.
Ela tinha os pés tão plenos de chão, que era como se um fio a puxasse ao centro da terra. Mesmo parada, eram passos esticados até enfim, aqueles: sóbrios, concretos. Sem sombra de ser. Ela, insubstituível e inderrubável em sua ebulição. Ombros largos, quadris estabelecidos, joelhos a postos.
Nossa relação, por entre-nós. Bastava entre-sermos, entrermos. Porém, nos desertamos, desertificamos em qual memória. O que um dia inteiro, hoje, o necessário: máscaras, semi-abraços, pseudo-sorrisos, neblina. O tempo realmente acabara, para tchau.
Eu, rasa, olhos nos olhos, latejante. Abreviação: levitação. Eu não estava mais lá, flutuava em minha própria. Meus passos, perspectivos, moídos. Fiquei, interrompida.
Haver, a ver.